Eu perguntara a um bando de crianças
que encontrara na favela do Buraco Quente
se conheciam a história do Papai Noel.
Todas conheciam e sabiam até dos detalhes.
Vinha do Pólo Norte, num trenó,
de um lugar muito frio com um montão de presentes
para as crianças boazinhas.
Quando perguntei se conheciam o Menino Jesus,
de onde vinha e quem eram seus pais só seis responderam direito.
Contei-as.
Todas conheciam o Papai Noel e só 3 em cada dez conheciam Jesus.
Ninguém lhes contara a história dele.
Trinta anos depois nada mudou.
Olhe as ruas e os shoppings e verá quem está sendo lembrado.
Os profetas e marketeiros do Papai Noel têm sido muito mais eficientes do que os profetas e anunciadores de Jesus.
O velhinho simpático e rechonchudo que vem do frio está outra vez por toda a arte, nas ruas e lojas e portas, descendo de helicóptero num estádio ao som emocionado de um comentarista de televisão.
“Recebam o Papai Noel”, “Palmas para o Papai Noel” ... dirá ele.
Outra vez nos grandes centros urbanos têm mais ele do que Jesus.
Nos interiores é diferente, mas também lá
as coisas estão mais para Papai Noel do que para Menino Jesus.
O velhinho roubou a festa de aniversário do menino.
Fala-se mais dele do que do aniversariante.
Alguma coisa andou errado com as igrejas
que deixaram que isso acontecesse.
Não somos contra a ternura do velhinho.
Que venha o Papai Noel com sua simpatia
e sua bondade fofa, mas que não se esqueça
o menino pobre com sua mensagem
de resgate e de esperança.
Digamos isso às crianças.
Minimizaram Jesus e deram cobertura total ao Papai Noel.
Que se repare a injustiça.
Um velho penetra roubou a festa de uma criança.
Ele é bem-vindo, mas ajoelhado diante do menino.